Todo mundo conhece a história das bruxas de Salem, o que muitos não sabem é que entre as mulheres acusadas da época, estava uma negra escravizada, que teve de confessar seu pacto com o maligno, embora não entendesse o que isso significava, para poder sobreviver.
Narrado em primeira pessoa pela própria Tituba, o livro de Maryse Condé, é uma ficção inspirada nesses acontecimentos reais datados em 1692.


Tituba nasceu da violência que sua mãe sofreu num navio negreiro. Ainda menina ficou órfã e foi cuidada por Man Yaya, uma mulher muito temida e respeitada por seus conhecimentos mágicos. Man Yaya ensinou tudo à Tituba, sobre cura, contato com os mortos, encantamentos, mas o principal que ela ensinou, foi a nunca realizar o mal.
Com a morte de Man Yaya, Tituba ficou sozinha em uma cabana na floresta e, começou assim como sua mestre, a ser temida e adorada em Barbados, sua terra natal.
O fim da paz de Tituba começou quando ela conheceu John Indien, um negro indígena, seu primeiro e único amor, aquele que a levaria de Barbados.
John e Tituba foram morar na fazenda da dona de John, nos Estados Unidos, mas essa mulher era muito terrível com Tituba e pela primeira vez ela realizou o mal à uma pessoa. Isso, acarretou na venda do casal à Samuel Parris, um correligionário puritano, que foi enviado junto com sua família e escravos para a aldeia de Salem.
Apesar de ser amada pela esposa e filha de Samuel Parris, a vida de Tituba em Salem não foi fácil desde o início, para aquelas pessoas a cor de sua pele era um sinal explícito de seu envolvimento com o demônio. E, quando as meninas da aldeia começaram a inventar ataques histéricos em sua presença, Tituba foi presa na hora, e persuadida a assumir algo que não fez, numa tentativa de sobrevivência.
Maryse Condé é uma feminista que soube libertar Tituba do esquecimento. Embora a história das bruxas de Salem ser amplamente retratada, quase nunca fala-se em Tituba. Gostei muito do livro, principalmente, nos pontos em que a autora fala da escravidão, da submissão das mulheres e do patriarcado, mas, acho que ela pesou a mão em tentar colocar muitos momentos históricos em um mesmo romance e para uma mesma personagem. Acho também, que ela explorou pouco os julgamentos de Salem, para mim depois da saída de Tituba dessa aldeia, a autora se perdeu.
Mas, ainda assim, é um livro que recomendo muito e me faz pensar no atual momento no mundo, esse zelo pelo “cidadão de bem”, pela moral e o que é influência de um ser maligno está em evidência novamente. Temos que ficar atentos.

Nome do Livro: Eu, Tituba. Bruxa negra de Salem
Autora: Maryse Condé
Editora: Rosa dos tempos
Ano: 2019
Páginas: 252

Leia também a resenha de Feminismo em comum de Márcia Tiburi, outro livro da editora Rosa dos tempos.