Nunca li a saga Crepúsculo, mas assisti aos filmes diversas vezes. 

Recentemente, com a escolha de Robert Pattinson para viver o novo Batman, as redes sociais foram tomadas por fotos e vídeos do ator, e eu me peguei mergulhada nos filmes de Crepúsculo novamente. Terminei a maratona me fazendo uma pergunta: em que momento a figura do vampiro deixou de ser terrível para se tornar sexy?

O romance Drácula, do escritor irlandês Bram Stoker, não é a primeira obra a apresentar um vampiro na narrativa, mas é até os dias de hoje, mesmo mais de um século depois de sua primeira publicação, a que mantém mais viva com suas diversas reedições e adaptações, a figura vampiresca raiz, o malvado terrível, o sugador de sangue sem escrúpulos que hipnotiza e seduz pra conseguir o que quer. Bram Stoker conseguiu como ninguém criar um ambiente fantasmagórico, gótico, com uma aura sobrenatural.

A inspiração para criar Drácula surgiu de uma história real. Vlad Dracul foi um príncipe da Valáquia, antiga província na Romênia. Conhecido como Vlad o empalador, o príncipe ficou famoso por ser extremamente violento, e as lendas envolvendo a morte dos seus inimigos só aumentaram o terror na época e o interesse por sua história.

Muito do que “conhecemos” sobre a mitologia vampiresca foi criado por Bram Stoker. Algumas das principais características do Conde Drácula, continua sendo passada como regra aos seus sucessores, como a imortalidade, a aversão aos símbolos católicos, o poder de transmitir seu veneno e tornar suas vítimas novos vampiros, a necessidade de descansar em caixões e de ser convidado para entrar em residências. Mas nada na narrativa de Stoker remete ao romântico e sensível Edward Cullen.

Talvez tenhamos nos perdido pelos caminhos de Anne Rice e de vampiros interpretados por Tom Cruise e Brad Pitt que, depois deles, a figura sanguinária ganhou essa aura sexy.

Inúmeras séries, livros e filmes vieram na sequência, recheados de lobisomens, vampiros e outras figuras criadas para instruir nosso imaginário a desejar esses “homens/monstros” incompreendidos, cheios de traumas e inseguranças, totalmente desesperados para conhecer aquela bela moça capaz de humanizá-los.

A grande verdade é que a fórmula tem dado certo, e ganha cada vez mais espaço nas telas e nas estantes.

Eu não consigo responder a minha própria pergunta, não sei, exatamente, em que momento a figura do vampiro se perdeu. Mesmo no atual momento, enquanto tentamos bravamente criar uma consciência de nosso papel na vida, nos relacionamentos e na sociedade, quando nos desdobramos para destruir o patriarcado e suas sequelas, somos constantemente bombardeadas por essas histórias de amores românticos e impossíveis.

Disfarçados em pele de cordeiros, os monstros em corpos sarados e banhados de sensibilidade acaba nos encantando, eu pelo menos caio nessa ladainha na maioria das vezes. Robert Pattinson sabe bem disso.