Extremamente patriota, o major Policarpo Quaresma é cômico aos olhos das pessoas. Seu amor pelo Brasil e suas ideias nacionalistas, fazem-no ser visto com estranheza.
Luis de Camões está em sua embarcação a caminho das Índias, e uma forte tormenta muda seu rumo e seu tempo, levando-o ao Rio de Janeiro do fim do século XX.
Em sua visita, Camões se depara com traficantes e pais de santo, se apaixona por uma prostituta e encontra um exemplar de sua obra Os Lusíadas, confirmando que se tornará um poeta no futuro. A princípio, nosso viajante parece não querer deixar essa terra futurística, mas quando resolve fazer uma leitura dramática de seu poema, a linguagem é tão estranha ao povo que Camões acaba vaiado. Deprimido, ele clama aos céus para ir embora e é atendido, no fim ele volta ao início, em sua caravela, rumo às Índias, durante a tormenta.
O texto é muito bem humorado, e explora a diferença grotesca entre o protagonista e os brasileiros do século XX, principalmente em relação a linguagem. O bom humor deixa o texto mais leve, mas por se tratar de um poema no estilo épico, e por conter inúmeras referências, requer atenção e pesquisa.
A obra é um compilado de 9 artigos, escritos pela jornalista e historiadora Rebecca Solnit, abordando temas políticos e sociais, mas principalmente, sobre a posição da mulher na sociedade.
O primeiro artigo “Os homens explicam tudo para mim”, que intitula o livro, a própria autora estava em uma festa, e o anfitrião um homem rico e bem relacionado começou a falar para ela sobre um livro importantíssimo que foi publicado naquele ano, e a explicar o tema complexo desse livro, sem lhe dar a chance de contar que a autora da obra que ele mencionava, era ela mesma. Esse artigo, inspirou a origem do termo “mansplaining”, junção das palavras man (homem) e explaining (explicam), para descrever homens que tentam explicar ás mulheres assuntos que elas já dominam.
A autora cita casos de estupro coletivo, assassinatos em massa e violência doméstica e, munida de estatísticas, expõe a cultura machista enraizada na sociedade. Outros temas desenvolvidos por Rebecca, é o confinamento/silenciamento (Avó aranha) e a falta de credibilidade (A síndrome de Cassandra) que envolve as mulheres.
A literatura feminista tem crescido muito nos últimos anos, tanto com novas obras, como com textos antigos republicados. Meu contato ainda é recente, e das obras que já li, achei esse livro mais direto, duro, impactante e esclarecedor, e expande a discussão sobre exploração, misoginia, sexismo e violência.
João aos 50 anos se torna pai pela segunda vez e, a chegada de Bia traz toda uma apreensão sobre o futuro.
Ainda na maternidade, o pai João começa a escrever um caderno, uma espécie de diário do adeus, para deixar à filha quando não estiver mais presente. A todo momento, o pai deixa claro para a filha que não estará com ela no futuro, que a perda é inevitável, e começa a imaginar acontecimentos na vida futura da menina e quais conselhos ele lhe daria se estivesse com ela.
Além desses conselhos, o pai conta para a filha um pouco de sua própria infância, sobre seus pais e avós, pessoas que ele já perdeu e que a pequena Bia nem chegará a conhecer. Fala muito sobre o desejo de sua esposa em ser mãe e em como Bia foi desejada e esperada.
” Mas tu, não. Vens com esta marca, de minha ausência, a envolver inteiramente a tua vida, e este é um dos primeiros sustos que temos nesta existência, somos o que somos, não há como alterar a nossa história, sobretudo se ela já começa no meio, ou mais próxima ao fim – esta porta do hospital, de vaivém, foi a tua porta de entrada, talvez seja a minha de saída – […]” .
A obra é cheia de nostalgia e de uma beleza triste. Não tem como não se emocionar com a constatação de uma pai que, sabe que não viverá o suficiente para ver a filha crescer. E no que parece um texto, divinamente poético, mas simples, Carrascoza consegue nos surpreender com o desfecho.
Esther é uma jovem estudante do interior dos Estados Unidos, muito estudiosa e promissora, que ganhou um estágio em uma grande revista de Nova York.
Durante sua estada na cidade grande, e em contato com todo o glamour que o estágio oferecia, Esther passa por pequenos e grandes acontecimentos que a fazem rememorar suas escolhas e, a contestar sua maneira de viver, seus gostos e anseios futuros. Começa a contestar o sentido de sua vida.
Tudo parece estar no caminho certo, ela tem uma bolsa de estudos na universidade, um estágio dos sonhos e uma carreira promissora, mas as coisas que, outras meninas de sua idade achariam espetaculares, para ela não têm o mesmo sabor. E quando o estágio acaba e ela volta a sua pequena cidade, Esther é sugada pela depressão.
A princípio não percebemos o que está acontecendo com ela, pequenas coisas como não dormir, não tomar banho ou não conseguir escrever vão expondo o rumo que a mente da jovem está tomando. Ela flerta com o suicídio o tempo todo e após uma tentativa frustrada, Esther é internada em um sanatório.
Submetida a tratamento de eletro choque e convivendo com outras moças, ela começa a se sentir fora da redoma (durante todo o livro, Esther explica que se sente sufocada dentro de uma redoma), fora das pressões e expectativas.
“Mas eu não tinha certeza. Eu não tinha certeza de nada. Como eu poderia saber se um dia – na faculdade, na Europa, em algum lugar, em qualquer lugar- a redoma de vidro não desceria novamente sobre mim, com suas distorções sufocantes?”
Muito difícil falar sobre essa obra. O livro é autobiográfico, muitos acontecimentos descritos foram vividos pela autora, que infelizmente cometeu suicídio pouco depois da publicação da obra. A narrativa é fantástica, muito poética e ao mesmo tempo fluida, mesmo tratando de um tema tão pesado, é uma leitura muito rápida. Percebi muitos tons feministas em Esther, talvez isso em uma época conservadora, tenha ajudado a personagem a sentir-se fora dos padrões e desencadear a depressão. O que mais me chamou atenção em Esther é que ela não dá sinais claros de sua instabilidade, ou até de sua insanidade, o que dificulta para pessoas que, como eu, não têm contato com a depressão conseguir entendê-la . Mas, principalmente, para pessoas como eu, esse livro é tão importante.
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