Mario Cardoso é um ator em decadência, que se vê no fundo do poço, com o encerramento de sua turnê da peça Rei Lear. Motivo do encerramento da turnê? Mario não consegue conter suas crises de riso em cena.
Luis de Camões está em sua embarcação a caminho das Índias, e uma forte tormenta muda seu rumo e seu tempo, levando-o ao Rio de Janeiro do fim do século XX.
Em sua visita, Camões se depara com traficantes e pais de santo, se apaixona por uma prostituta e encontra um exemplar de sua obra Os Lusíadas, confirmando que se tornará um poeta no futuro. A princípio, nosso viajante parece não querer deixar essa terra futurística, mas quando resolve fazer uma leitura dramática de seu poema, a linguagem é tão estranha ao povo que Camões acaba vaiado. Deprimido, ele clama aos céus para ir embora e é atendido, no fim ele volta ao início, em sua caravela, rumo às Índias, durante a tormenta.
O texto é muito bem humorado, e explora a diferença grotesca entre o protagonista e os brasileiros do século XX, principalmente em relação a linguagem. O bom humor deixa o texto mais leve, mas por se tratar de um poema no estilo épico, e por conter inúmeras referências, requer atenção e pesquisa.
Nome do Livro: História bizarra da literatura brasileira
Autor: Marcel Verrumo
Editora: Planeta
Ano: 2017
Páginas: 328
A obra é dividida em cinco períodos históricos, o Brasil colônia, o império, a república, o movimento modernista e a ditadura. Em cada período o autor nos conta histórias engraçadas, tristes e a maioria bizarras sobre grandes nomes da nossa literatura.
Somos apresentados a fatos pouco conhecidos, por exemplo, que Pero Vaz de Caminha aproveitou a carta enviada a D. Manuel relatando o descobrimento do Brasil, para pedir clemência a seu genro ladrão que estava exilado e, que talvez nosso país não foi descoberto por acaso. Álvares de Azevedo previu o ano de sua morte e que Nísia Floresta foi a primeira mulher a escrever e publicar um livro no Brasil, já demonstrando a garra de uma grande feminista. Machado de Assis descreveu um transtorno mental em uma de suas obras, 18 anos antes de a doença ser catalogada por psiquiatras; o cortiço que inspirou Aluísio Azevedo foi demolido durante uma campanha higienista na cidade do Rio de Janeiro; o primeiro romance com um casal homossexual foi escrito em 1895; Jorge Amado foi um grande defensor das liberdades individuais e no cargo de deputado aprovou uma emenda constitucional que permitia a liberdade religiosa; Aracy, esposa de Guimarães Rosa, salvou muitos judeus do Holocausto e que a escritora Rachel de Queiroz apoiou o golpe militar de 1964.
A obra é de uma leitura deliciosa, totalmente didática e bem humorada. Além de nos permitir a sensação de proximidade com nossos queridos escritores, ela também nos insere no contexto histórico de uma maneira leve, sem parecer um texto acadêmico.
João aos 50 anos se torna pai pela segunda vez e, a chegada de Bia traz toda uma apreensão sobre o futuro.
Ainda na maternidade, o pai João começa a escrever um caderno, uma espécie de diário do adeus, para deixar à filha quando não estiver mais presente. A todo momento, o pai deixa claro para a filha que não estará com ela no futuro, que a perda é inevitável, e começa a imaginar acontecimentos na vida futura da menina e quais conselhos ele lhe daria se estivesse com ela.
Além desses conselhos, o pai conta para a filha um pouco de sua própria infância, sobre seus pais e avós, pessoas que ele já perdeu e que a pequena Bia nem chegará a conhecer. Fala muito sobre o desejo de sua esposa em ser mãe e em como Bia foi desejada e esperada.
” Mas tu, não. Vens com esta marca, de minha ausência, a envolver inteiramente a tua vida, e este é um dos primeiros sustos que temos nesta existência, somos o que somos, não há como alterar a nossa história, sobretudo se ela já começa no meio, ou mais próxima ao fim – esta porta do hospital, de vaivém, foi a tua porta de entrada, talvez seja a minha de saída – […]” .
A obra é cheia de nostalgia e de uma beleza triste. Não tem como não se emocionar com a constatação de uma pai que, sabe que não viverá o suficiente para ver a filha crescer. E no que parece um texto, divinamente poético, mas simples, Carrascoza consegue nos surpreender com o desfecho.
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