Mario Cardoso é um ator em decadência, que se vê no fundo do poço, com o encerramento de sua turnê da peça Rei Lear. Motivo do encerramento da turnê? Mario não consegue conter suas crises de riso em cena.
Luis de Camões está em sua embarcação a caminho das Índias, e uma forte tormenta muda seu rumo e seu tempo, levando-o ao Rio de Janeiro do fim do século XX.
Em sua visita, Camões se depara com traficantes e pais de santo, se apaixona por uma prostituta e encontra um exemplar de sua obra Os Lusíadas, confirmando que se tornará um poeta no futuro. A princípio, nosso viajante parece não querer deixar essa terra futurística, mas quando resolve fazer uma leitura dramática de seu poema, a linguagem é tão estranha ao povo que Camões acaba vaiado. Deprimido, ele clama aos céus para ir embora e é atendido, no fim ele volta ao início, em sua caravela, rumo às Índias, durante a tormenta.
O texto é muito bem humorado, e explora a diferença grotesca entre o protagonista e os brasileiros do século XX, principalmente em relação a linguagem. O bom humor deixa o texto mais leve, mas por se tratar de um poema no estilo épico, e por conter inúmeras referências, requer atenção e pesquisa.
Filha de um feitor branco e de uma cativa morena, Isaura é uma escrava branca que vive numa fazenda no Rio de Janeiro. Tendo perdido a mãe quando era pequena, Isaura foi criada como membro da família de seus senhores e, sempre muito bem tratada pela matriarca, a moça teve todo o conforto e educação que a transformaram em uma dama.
Com a morte dos donos da fazenda, seu único filho, Leôncio, herdou a propriedade e seus escravos, um rapaz inescrupuloso e mimado que nutre um amor doentio por Isaura. Diante da rejeição da escrava, Leôncio a humilha e pune de todas as formas a fim de conseguir o que quer, e recusa todas as ofertas do pai de Isaura para comprar a liberdade da filha.
É nesse momento que Isaura e o pai conseguem fugir para Pernambuco. Lá vivem praticamente reclusos e com identidades falsas, mas isso não impede que Isaura conheça e se apaixone por Álvaro, um jovem filósofo e abolicionista, que faz de tudo para libertá-la.
Escrita em 1875, a popular obra de Bernardo Guimarães divide opiniões sobre o tom abolicionista/racista. De um lado a abolição da escravatura livremente discutida em uma obra de grande circulação e popularidade, de outro, a visão da escrava branca e não negra que merece liberdade. Deixando de lado as discussões, mesmo não gostando de romances tão românticos, A escrava Isaura não me cansou como outros. Contém todo o melodrama da heroína pura, mas a narrativa é muito poética e cheia de belas descrições e imagens. Contudo, achei o texto muito curto, a trama merecia e pedia mais desenvolvimento, talvez por isso tenha tantas adaptações, é um livro que dá abertura à expansão.
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