Sabe aqueles livros com finais totalmente previsíveis? Pois é, A mulher ruiva não é um deles.


Nessa obra, do escritor turco vencedor do Nobel Orhan Pamuk, acompanhamos a trajetória de Cem Çelic, que no início do livro é um jovem de dezesseis anos que vive sozinho com a mãe, depois que o pai abandonou a família. Sem dinheiro para pagar o cursinho e realizar seu sonho de entrar na universidade e tornar-se escritor, Cem consegue um trabalho temporário que lhe promete um bom salário, assim ele passa a ser aprendiz do mestre Mahmut, um cavador de poços (na época em que se passa o início da história essa profissão ainda não tinha sido engolida pela modernidade e, era muito comum nas áreas mais secas da Turquia).
Cem trabalha com mestre Mahmut por um mês e a relação entre os dois é quase paternal, ele vê no seu mestre o pai ausente e se agarra à essa nova relação. Mestre e aprendiz trabalham durante o dia e à noite vão à cidade comprar cigarros ou tomar um café e, é num desses passeios, que Cem vê a mulher ruiva pela primeira vez.
Uma mulher descrita de forma quase poética, suas feições, o cabelo vermelho, o porte elegante, seu sorriso enigmático. Cem fica obcecado pela mulher ruiva e isso começa a afetar sua concentração no trabalho. Até que um acidente acontece no poço e… (a partir daqui não consigo contar mais nada que não seja spoiler).
Bom, o que posso dizer é que a escrita de Pamuk é muito envolvente (li mais de 100 páginas sobre perfuração de poços sem perceber), o autor conseguiu abordar junto à trama a cultura turca e a relação oriente/ocidente, capitalismo x socialismo e a relação paterno-filial comparando-a aos mitos de Édipo (Édipo rei de Sófocles) e Rostam e Sohrab (Shahnameh).
Achei um excelente livro, embora alguns pontos do final tenham me incomodado um pouco. A verdade é que trata-se de um livro narrado em primeira pessoa e, essa narrativa de Cem não pode ser confiável. Mas será que ele é mesmo o narrador?

Nome do Livro: A mulher ruiva
Autor: Orhan Pamuk
Editora:Companhia das Letras (Tag Experiências Literárias)
Ano: 2020
Páginas: 296

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