Publicado em 1954 em comemoração ao 4° centenário de São Paulo, A muralha é um romance histórico escrito por Dinah Silveira de Queiroz que estava esquecido. Muitas pessoas conheciam a história pelas adaptações televisivas, principalmente a minissérie exibida pela Rede Globo no ano 2000, mas a nova edição de 2020, da Editora Instante, nos trouxe novamente às mãos esse belo romance brasileiro. 


Ambientado no século 18, o livro narra uma parte importante da história nacional, o período das bandeiras. Os bandeirantes eram homens exploradores que desbravaram o sertão brasileiro à procura de riquezas minerais, pintados por muito tempo como heróis, na verdade os bandeirantes foram genocidas que enquanto desbravaram o sertão caçaram, escravizaram e assassinaram povos indígenas. 
Em A muralha, o núcleo principal é a família de Dom Brás Olinto, um desses “importantes” bandeirantes, eles aguardam a chegada de Cristina, moça portuguesa que está vindo prometida ao filho de Dom Brás, Tiago. Quando Cristina chega, há um grande choque, a fina moça portuguesa encontra a grande Muralha de vegetação que precisa atravessar para chegar à família que lhe espera. Quando consegue chegar à Lagoa Serena, lar dos Olintos, Cristina enfrenta uma nova muralha, o choque cultural perante os integrantes da família e a desilusão de suas aspirações românticas no encontro com Tiago.
Dinah Silveira de Queiroz narra, mais que as expedições dos bandeirantes, a Guerra dos Emboabas e, de forma intensa o massacre que ficou conhecido como Capão da Traição, ela narra principalmente a vida difícil das mulheres que ficam em casa à espera desses homens. Essas mulheres que mantém, praticamente sozinhas, a casa, a fazenda e sustentam a pesada vida nos ombros. Dinah constrói personagens femininas muito fortes e à frente de seu tempo, são mulheres que escolhem não casar, que engravidam fora do casamento, que fogem para casar com seus amados ou de um casamento ruim, mas infelizmente, Dinah deixa claro o contexto e o tempo em que vivem e a história é implacável com essas mulheres. 
Eu recomendo muito a leitura de A muralha, além de ser um livro extremamente bem escrito, ele retrata seu tempo e nos permite compreender nossa história, mas ele tem suas falhas. Pra mim a escritora peca ao não dar voz à personagens negros e indígenas ou, pelo menos, poderia ter inserido um personagem que contestasse à caça e escravização. Falando em dar voz à personagens, nenhuma dessas mulheres fortes e destemidas que mencionei são indígenas ou negras, todas são brancas e, a única que, mesmo branca, poderia ter um papel de destaque por subverter o padrão de feminilidade (Isabel), fica apagada.

Nome do livro: A muralha
Autora: Dinah Silveira de Queiroz
Editora: Instante
Ano: 2020
Páginas: 400