Nome do Livro: Você vai voltar pra mim e outros contos
Autor: Bernardo Kucinski
Editora: Cosac Naify
Ano: 2014
Páginas: 185
Essa obra é uma coletânea de histórias inspiradas na época da ditadura militar no Brasil. São 28 contos, todos muito bem desenvolvidos e muito intensos, que abordam tortura, exílio, prisão, clandestinidade, política e diversos outros temas, com inúmeros pontos de vista.
Os contos que mais me marcaram foram: A negra Zuleika, O velório, Você vai voltar pra mim, Pais e filhos, A instalação, O garoto de Liverpool, Cenas de um sequestro e Tio André.
A narrativa de Kucinski é impecável, te leva a sentir na pele todos os acontecimentos atrozes da época. É leitura obrigatória para todos os brasileiros.
Narrado em primeira pessoa, a obra nos leva a incrível jornada do escritor Rupert Lang, por países, ambientes e épocas diferentes.
A narrativa é feita através das lembranças de Rupert, que passam pela corte espanhola em 1868, pelas descobertas de Joannes Kepler em 1604 e por um mosteiro budista na China em 1933. Envolvendo sempre os mesmos personagens, Benjamin, Dolores e Horácio, mantendo seus nomes e características em cada etapa, o livro nos leva a pensar em viagem no tempo ou mesmo até em reencarnação, mas a obra é muito mais psicológica.
A narrativa não linear deixa o clima mais intenso e o desenrolar pode parecer mais lento, mas no momento que que entramos na mente de Rupert, a trama desenrola-se brilhantemente até o desfecho. Apesar de Rupert ser o narrador/personagem, consegui vê-lo separadamente e minha empatia foi muito maior com sua face narrador.
Me surpreendeu muito a riqueza narrativa da obra e seu conteúdo histórico. A delicadeza e talento desse jovem autor, ainda não devidamente reconhecido, inspira a leitura de contemporâneos nacionais.
A trama se passa em um país da América do Sul, onde haverá um jantar em comemoração ao aniversário do Sr. Hosokawa, um grande empresário japonês que está de passagem pelo país. A princípio o aniversariante não quer nenhum tipo de comemoração, mas aceita a festa quando é informado que a cantora lírica Roxane Coss cantará em sua homenagem. No dia da festa, após a apresentação de Roxane, o local é tomado por terroristas, é uma tentativa de golpe de estado e eles querem sequestrar o presidente, mas o mesmo não se encontra na festa. Os terroristas decidem então, manter todos em cativeiro.
Muitos meses se passam e o cativeiro começa a parecer um lar para todos (sequestrados e sequestradores). São pessoas de várias nacionalidades, que estão presas na casa do vice-presidente do país, e vão nos mostrando seus dons e habilidades e nos contando suas histórias de vida.
No cativeiro eles tem liberdade de fazerem o que amam e não conseguem fazer com a agitação do cotidiano, eles leem, conversam, jogam xadrez e cantam. Passam a esquecer suas vidas reais e viver esse pesadelo/sonho como realidade. Os personagens vivem romances e amizades inimagináveis. No fim a casa é tomada por policiais, todos os sequestradores morrem e o Sr. Hosokawa também morre tentando salvar uma das jovens terroristas.
Que livro impactante. O que poderia ser uma enxurrada de clichês, tornou-se uma grata surpresa. A delicadeza dos personagens e a forma como a autora humanizou os terroristas foi tocante. Para mim o único ponto ruim foi o epílogo foi totalmente desnecessário, não acrescentou nada e deu um rumo estranho para o desfecho.
Poema escrito por volta de 1307, a Divina comédia nos conta sobre a jornada de Dante pelo Inferno, Purgatório e Paraíso.
No início do poema, Dante encontra-se em uma floresta encurralado por três animais ferozes, quando o espírito de Virgílio (poeta italiano e ídolo de Dante) aparece e o salva propondo outro caminho, através do Inferno, do Purgatório e do Paraíso, onde encontraria sua amada Beatriz.
No inferno, Dante atravessa nove círculos (em formato de cone que chega ao centro da terra), dentro dos quais as almas estão em penitência de acordo com suas faltas cometidas em vida. São eles: os não batizados, os luxuriosos, gulosos, avarentos, coléricos e preguiçosos, incrédulos e hereges, violentos, fraudulentos e, por fim os traidores.
No purgatório, Dante atravessa sete círculos (em formato de montanha cônica) onde as almas estão expurgando seus pecados, são eles: os orgulhosos, invejosos, iracundos, preguiçosos, avarentos, gulosos e luxuriosos. No fim do último círculo do purgatório, Dante chega ao paraíso terrestre (jardim do Éden) onde despede-se de Virgílio para encontrar Beatriz. No paraíso terrestre, ele passa pelos rios Letes (para esquecer as faltas cometidas) e Eunoé (para rememorar as boas ações), para finalmente estar preparado e entrar no paraíso.
No paraíso encontra-se os sete céus planetários, de acordo com o grau de virtude e felicidade, são eles: Lua (fortaleza), Mercúrio (justiça), Vênus (temperança), Sol (prudência), Marte (fé), Júpiter (esperança) e Saturno (caridade). Há também o oitavo céu, das estrelas fixas, onde há a luz dos bem-aventurados e o triunfo de Cristo, por fim após Dante ser interrogado por São Pedro, Tiago e João ele sobe ao nono céu, Empíreo. Lá encontra-se a Rosa celeste, formada por almas triunfantes e anjos ao redor de Deus. Beatriz deixa Dante com São Bernardo e esse ora para a Virgem Maria para que Dante possa ter a visão da Divindade.
No fim Dante contempla Deus e suas faces pai, filho e espírito santo, assim termina o poema.
É incrível o poder e a força que uma obra como essa tem, e é isso que a torna atemporal. O enredo, a métrica, as divisões dos cantos, tudo é perfeitamente interligado e tudo tem um significado brilhante. Acredito muito na importância de ler os clássicos e essa sem dúvida é uma obra que deveria ser lida por todos, muito do que vemos e lemos hoje tem inspiração na Divina comédia.
NOTA: ♥ ♥ ♥ ♥ ♥
* Como a obra foi escrita originalmente em dialeto florentino, a compreensão pode ser mais difícil, utilizei um site (www.stelle.com.br) para me auxiliar em algumas partes, e ficou muito mais acessível.
Com uma narrativa muito intensa, a obra nos conta sobre a rotina e as emoções de uma mulher que está perdendo a visão.
Lina é uma escritora chilena que vive com o namorado Ignácio nos Estados Unidos. Ela tem um problema nos olhos e sabe que a qualquer momento pode perder a visão e a obra já começa assim, quando Lina tem os olhos encharcados de sangue.
No decorrer dessa obra visceral, somos transportados para os pensamentos e sentimentos da personagem e levados a viver com muita intensidade seus medos e angustias. Boa parte do livro é regido pelos pensamentos de Lina, seu ressentimento com os pais (principalmente a mãe), seu distanciamento dos irmãos e de seu país natal, seu amor incondicional pelo namorado e o receio de perdê-lo, mas principalmente o pavor de tornar-se dependente e ter que modificar sua forma de existir.
Lina passa por cirurgias e chega a cobrar uma prova de amor de Ignácio, será que ele lhe daria um olho? Somente um?
Intensidade resume essa obra de narrativa impecável,sucinta. Lina não faz rodeios com sua personagem homônima e a despe de todos os clichês que poderiam conter na trama. Simplesmente incrível.
Comentários