A escolha do Leia mulheres Londrina esse mês foi a coletânea de contos “As coisas que perdemos no fogo” de Mariana Enriquez. Eu não sabia nada sobre o livro antes de iniciar a leitura, mergulhei no escuro e me surpreendi com a narrativa dessa escritora argentina.


São 12 contos que brincam com a fantasia e o horror, sem deixar de fazer críticas sociais (o espectro da ditadura militar argentina e a violência policial estão presentes em algumas histórias). A maioria dos personagens estão em situação de miséria, violência e depressão em narrativas muito originais que priorizam o não dito.
O livro não é terror, não é fantasia, não é realismo fantástico, é um livro que causa estranhamento, que beira todas as categorias e não se encaixa em nenhuma, é original. 
Gostei, particularmente, do conto “Pablito Clavó un Clavito: uma evocação do baixinho orelhudo” que narra a história de um “guia turístico” na Argentina. Esse homem é encarregado de levar os turistas aos lugares macabros da cidade, aos pontos onde crimes bárbaros foram cometidos e ele mergulha tanto no seu trabalho, que começa a “ver” um dos assassinos . Esse conto é apenas um dos que Mariana Enriquez usa crianças na narrativa, para deixar as coisas ainda mais angustiantes.
Gostei bastante da leitura, só uma coisa me incomodou, o fato da autora usar crenças de matrizes africanas como forma de “satanizar” acontecimentos inexplicáveis nas narrativas. Tentar aterrorizar usando crenças que já são tão perseguidas e mal interpretadas, pra mim acaba reforçando e disseminando intolerância, mesmo que seja ficção. 

Nome do livro: As coisas que perdemos no fogo
Autora: Mariana Enriquez
Editora: Intrínseca
Ano: 2017
Páginas: 163