O livro é uma coletânea de contos do jovem escritor Geovani Martins. Nascido em Bangu e, morador da Rocinha e do Vidigal, Geovani retrata a violência urbana, os conflitos entre moradores de comunidades, viciados, traficantes e policiais. Em cada conto o autor consegue mudar a voz dos personagens e abusa das gírias e expressões informais.
Escritos na década de 1970, em plena ditadura militar, os contos de Pedras de Calcutá, abordam temas como a repressão, liberdade sexual e paranoia de uma forma extremamente desconfortável.
Conto pouco conhecido, escrito por Eça de Queiroz no fim de sua vida, ficou inacabado, mas constitui-se em uma curta e bela amostra de seu poder narrativo.
José Ernesto é um homem solteiro, não muito jovem, que está interessado em adquirir uma propriedade no campo. Sempre foi um sonho ter uma boa propriedade rural, onde pudesse hospedar os amigos e uma quinta no norte de Portugal parece ser perfeita, se não fosse a chuva que assola o lugar, impedindo-o de conhecer melhor.
José Ernesto fica hospedado na quinta, na companhia dos empregados e de padre Ribeiro, que com a chuva torrencial os impedindo de sair, começa a contar histórias da família do proprietário e, José Ernesto se interessa, principalmente, por uma de suas jovens filhas.
Pela descrição de padre Ribeiro a menina Dona Joana além de muito bonita, possui temperamento forte e idéias pouco convencionais, para jovens de sua idade, o que aguça mais ainda o interesse de José Ernesto. E em meio a essa chuva que não cessa, ao conforto simples que a casa no campo oferece, José Ernesto começa a se desvencilhar de sua vida na agitada Lisboa e a cogitar comprar a propriedade, tudo isso maravilhado com a imagem de uma mulher que ainda não conheceu.
Esse conto me lembrou muito o romance A cidade e as Serras, do mesmo autor, talvez por que foram escritos na mesma época e, por enaltecerem a natureza e essa atmosfera mais simples. Juntando essa narrativa mais poética do Eça e a simplicidade e doçura do enredo, resultou em uma obra linda. Vale ressaltar também, que a edição da Cosacnaify, está ricamente ilustrada por Guazzelli.
Conto clássico, publicado em 1892, trata de impotência. Da mulher perante o homem, da esposa perante o marido, da mente confusa e oprimida diante de um papel de parede.
A protagonista é uma mulher jovem, com um filho ainda bebê, que foi diagnosticada pelo médico, e marido, com uma histeria, um colapso mental, e o casal se instala em uma casa de campo para que a esposa possa se recuperar.
O marido e o irmão da protagonista são médicos, e tecem uma série de cuidados que ela deve tomar para a recuperação, tais como não praticar nenhum tipo de atividade física ou intelectual (ela gosta de escrever), ela deve esvaziar a mente e descansar. Mas o tempo ocioso e solitário (já que o marido passa o dia e às vezes noites trabalhando) faz com que a esposa deixe de lado as recomendações e começa um diário, onde relata não só pormenores de sua vida e relação com o marido, mas detalhes do papel de parede do quarto.
A princípio ela não gosta do papel, chega a sentir medo dele, mas com o tempo começa a notar um padrão em suas irregularidades e, observá-lo, passa a ser sua atividade principal. Ela o descreve como irregular, descobre que há mais de um plano no papel e nota que há uma mulher presa ao padrão. Sua luta acontece na tentativa de desvendar o papel e libertar essa mulher presa, libertando a si mesma.
O livro é uma metáfora brilhante sobre a condição da mulher e uma crítica à sociedade da época. O texto é autobiográfico, já que a autora passou por um caso semelhante antes de divorciar-se do primeiro marido. Pode parecer uma história de suspense, mas é um clássico do feminismo que ficou incompreendido por décadas, e hoje ganha o destaque merecido.
A obra é um conjunto de 14 contos, que exploram a mente, a fantasia, os sonhos, a morte, animais fantásticos e seres humanos, e diversos outros temas que parecem não conversar, mas que no texto de Lygia se complementam.
Contos como Senhor Diretor, Herbarium, A Sauna, A mão no ombro e Noturno Amarelo, foram os que mais me envolveram. Coincidentemente, são contos que não exploram tanto a fantasia, mas sim a reflexão e o mergulho na mente dos personagens.
Em A sauna, um pintor divide seus pensamentos e lembranças entre suas duas esposas (a primeira é a mulher que o inspirou, a qual ele abandonou. Já a segunda e atual ele não ama mais) tudo isso enquanto faz uma sauna. Em Noturno Amarelo, um casal sem gasolina no meio da estrada brigam por banalidades e, em meio a tudo isso, a mente da jovem divaga sobre o passado, o noivo que roubou da prima, os avós que não visitou nunca mais, os remorsos e culpas e não consegue distinguir o que é real do que é imaginário.
Esse foi meu primeiro contato com a autora. Nos primeiros contos não consegui mergulhar profundamente, mas depois entrei no ritmo das narrativas e fluiu muito bem. São contos que requer reflexão, não é um livro para uma leitura superficial. São profundos e incontestavelmente bem escritos.
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