A história de uma Maria sanguinária, matadora e que dividia o cangaço de igual para igual com Lampião é falsa. Maria de Déa foi sim uma mulher empoderada e a frente do seu tempo, mas está longe da grande guerreira pintada ao longo dos anos.


No sertão nordestino dos anos 1920 e 1930, a figura de Virgulino Ferreira, o Lampião, cresceu e se destacou ao patamar de rei do cangaço mas, a imagem de sua companheira Maria também perpetua até os dias atuais. As lendas e mitos que envolvem o casal mexem com o imaginário do brasileiro há décadas. Neste livro, a jornalista Adriana Negreiros vem desmistificar a Maria Bonita valentona e nos apresentar a verdadeira Maria de Déa. Casada com o sapateiro Zé de Neném, e infeliz no casamento, Maria conhece e se apaixona por Virgulino e resolve seguir com ele na vida no cangaço. Ela será a primeira mulher a integrar o grupo de Lampião. Depois dela, os cangaceiros começam a trazer suas companheiras, na grande maioria meninas sequestradas e estupradas, poucas vão por vontade própria como Maria.
Em uma ambiente extremamente opressor, essas mulheres viviam na miséria e com medo, da polícia e de seus companheiros. Todas realizavam trabalhos domésticos e nunca participavam dos ataques, para os homens o lugar delas era nos acampamentos e nos coitos (esconderijos em fazendas amigas). A única que difere um pouco das demais é Maria, por ser mulher do capitão não realiza muitos trabalhos domésticos e é até mal vista por outras cangaceiras. Maria de Déa consegue, como nenhuma outra, influenciar o companheiro em alguns momentos e vivia, embora a fome e a seca, cheia de jóias e luxo.
Somente após sua morte o apelido Maria Bonita fica conhecido, não se sabe a origem, se por um filme homônimo da época ou se pela própria beleza da cangaceira, o fato é que, Maria Bonita estava a frete do seu tempo e era empoderada, mas na verdade, não passa nem perto da Maria lendária dos cordéis.

Eu esperava mais desse livro, mais relatos e mais delhes sobre a vida das mulheres cangaceiras e, em especial de Maria. Entendo que a documentação é precária, principalmente, das histórias das mulheres. Muitas dessas histórias ou não foram documentadas, ou foram desacreditadas com o passar dos anos e essa falta de relatos fez aumentar o mito da cangaceira.
A autora conseguiu, com o pouco que dispunha, relatar a opressão e os abusos vividos pelas mulheres na época, mas o livro ainda fala muito mais dos homens.

Nome do Livro: Maria Bonita: sexo, violência e mulheres no cangaço

Autora: Adriana Negreiros

Editora: Objetiva

Ano: 2018

Páginas: 293