A trajetória de Nadia Ghulam parece ficção, mas não é. É uma história real de sofrimento e, talvez o maior sofrimento dessa história seja, saber que meninas e mulheres no mundo todo ainda passam por algo semelhante todos os dias.


Nadia vivia em uma família de classe média no Afeganistão quando, em 1993, uma bomba atingiu sua casa e Nadia, ainda com 8 anos, teve parte do corpo e do rosto queimados.
Depois de dois anos internada, Nadia percebe-se em uma situação familiar tenebrosa, a família está na miséria, seu irmão morreu de forma violenta e seu pai por causa de tanto sofrimento perdeu a sanidade. Nadia, sua mãe e as irmãs mais novas estão sozinhas e, não podem trabalhar porque são mulheres (o Talibã governava o Afeganistão na época e era um dos regimes fundamentalistas islâmicos mais violentos e radicais, nele as mulheres não podiam trabalhar, sair de casa desacompanhadas, frequentar escolas, serem atendidas por médicos e eram obrigadas a usar burca), foi nesse momento que Nadia decidiu tomar o lugar de seu falecido irmão Zelmai.
Aos 11 anos, Nadia usa o rosto queimado como disfarce e escudo e transforma-se em Zelmai mas, sem estudo e muito pobre, os trabalhos que ela consegue são pesados e pouco remunerados. Aos poucos a menina consegue força física e emocional para driblar o peso do trabalho e da fome e, é nessa batalha diária que Nadia vive como Zelmai por mais de 10 anos.
O livro é escrito pela própria Nadia Ghulam e conta com a colaboração da jornalista Agnès Rotger, nele as autoras narram toda a trajetória de Nadia até o dia em que, com a ajuda de uma ONG, ela consegue viajar para a Espanha e fazer cirurgias reparadoras. É absurdo tudo o que essa menina passou, toda a dor que ela viveu e,ainda, pensar o quanto essa história é recente. Esse é o tipo de relato autobiográfico que motiva gratidão e esperança, gratidão por Nadia ter sobrevivido e contado sua história e, esperança de que essas histórias fiquem no passado e nossas meninas sejam protegidas sempre.

Nome do Livro: O segredo do meu turbante
Autora: Nadia Ghulam e Agnès Rotger
Editora: Globo Livros
Ano: 2020
Páginas: 304

Leia também a resenha do livro O diário de Nisha, outra história inspiradora narrada por uma menina indiana.