A historiadora Mary Del Priore traz a luz, no seu livro mais recente, a trajetória de mulheres importantes para a construção histórica do Brasil, mulheres que ficaram de fora dos livros/documentos e como consequência, seguem desconhecidas da maioria dos brasileiros e brasileiras.

Em 36 capítulos curtos, a escritora tenta, de forma cronológica, repassar 500 anos de histórias de submissão, violência e adversidades com um olhar voltado aos casos de sucesso, às mulheres que “conseguiram” ou tentaram avançar as barreiras do patriarcado.
Das indígenas às escravizadas; das trabalhadoras do campo e da cidade; das mães, donas de casa às prostitutas; das primeiras feministas às cantoras de rádio, Mary Del Priore caminha pelo Brasil feminino e feminista usando um tom otimista, mesmo quando a história não reflete otimismos. Esse tom que a autora usa em grande parte do livro me incomoda, é claro que houveram casos que subverteram o padrão, mas são minoria e, com o passar dos capítulos (e décadas), principalmente quando aborda as trabalhadoras e operárias ou sobre a chegada da pílula, notamos uma diferença no tom da autora, não por vermos uma mudança no comportamento masculino, mas a reafirmação e até mesmo a amplificação de um comportamento violento, como a própria autora cita no capítulo Reações e violência: “O desagrado dos homens com as conquistas femininas não tardou a se manifestar”.
E, infelizmente, Mary Del Priore fecha seu livro com um soco de realidade e, acaba de vez com qualquer sensação otimista que possamos ter durante a leitura: “a cada quinze minutos uma mulher é estuprada e a cada duas horas outra é assassinada”.

Nome do Livro: Sobreviventes e guerreiras
Autora: Mary Del Priore
Editora: Planeta
Ano: 2020
Páginas: 256

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